Nada melhor do que um dia após o
outro. A Terra suporta suplícios século após século, pagando o preço do
desenvolvimento imposto pela humanidade. O homem, sequioso de mais e mais,
mesmo quando dispensável, ignora os princípios fundamentais da sobrevivência,
se não a dele em particular, da raça em geral. Os descaminhos passam pelo uso
desequilibrado das fontes de energia, da água que bebemos, do solo em que
plantamos, do ar que respiramos.
Impotente diante dos ataques
irresponsáveis sofridos, o planeta azul se contorce nos estertores das
mudanças. A fúria da natureza aumenta de maneira gradativa e implacável,
devolvendo aos agressores as torturas de tanto tempo. As tempestades, no mar,
na terra e no ar, devastam cidades grandes, médias ou pequenas, deixando um
rastro de destruição com jeito de retaliação. Longe de atacar sem motivo, a
orbe reage como um colossal animal acuado, lutando para manter o restante de
suas forças.
As catástrofes naturais ocorridas
em diversas partes do mundo, os extremos do clima, as convulsões cataclísmicas
sinalizam com insistência mais frequente. As vítimas aumentam, mas falta
reflexão e revisão de atitudes. Pouco se muda nas rotinas industriais, no
comportamento individual e nos hábitos coletivos. Segue a vida com a certeza inabalável
de que tudo é eterno enquanto dura, de que o nosso fim sempre estará mais
próximo do que o das demais coisas a nos cercarem.
Um dia a casa cairá, ninguém sabe
quando. Portanto, todos blefamos, geração após geração, lavando as mãos na
suposição de ter um jogo mais forte. A Terra, jogadora experiente, chora
lágrimas quase tão secas quanto o leito dos rios maltratados. Revolve suas
entranhas e expulsa uma acidez perversa, num refluxo ameaçador qual a lava do
Etna. Lá na Sicília, com um poder maior do que a máfia, o vulcão mais alto da
Europa avisa ao despertar. Aliás, tem despertado mais e em menor intervalo,
colocando em alerta a população local e outras centros no entorno, dificultando
a circulação por rodovias e aerovias.
As convulsões deixaram de ser
apenas econômicas, políticas, religiosas e sociais. As guerras santas,
ideológicas ou raciais sucumbirão aos efeitos de uma eclosão telúrica,
verdadeiro arrastão de causas naturais. Ainda que as placas tectônicas e as
manifestações da crosta terrestre independam, a princípio, das mesmas origens,
respondem com a voz rouca do desagravo. Das
cinzas não renascerá um novo habitat.
Por parecer perdida essa luta, devemos nos resignar à espera do último
round. Ou não?
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