domingo, 31 de março de 2013

Cúmplices




Fomos cúmplices em tudo na vida,
em desventuras, em golpes de sorte,
não é justo supor coincidência
se a prosa toma o rumo da morte.
Superei os cinqüenta e dois,
mas perdemos um grande amigo.
Meu sofrer então não foi pouco
e você sofreu junto comigo.
Aos cinqüenta e dois você foi,
me deixando pra trás no caminho.
Mesmo tendo os sentidos alertas,
está difícil a jornada sozinho.
Nosso tempo, tão compartilhado,
passa agora em enganos diversos,
se arrasta na melancolia
ou escapa na rima dos versos.
Acostumo com a dor da saudade,
que me vira do lado contrário.
Cinco meses após lhe perder,
vem seu dia de aniversário.
Há quem diga “deixou de existir,
contra os fatos não há argumento”.
Mas discordo, não vou lhe banir,
brindaremos em cada momento.
Passo a Páscoa da ressurreição,
do comércio dos vinhos e ovos,
no alento do nosso refúgio,
nossos filhos, amores mais novos.
Se com eles lhe sinto presente,
nas feições, na emoção dividida,
só aumento uma antiga certeza,
fomos cúmplices em tudo na vida.


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