Fomos
cúmplices em tudo na vida,
em desventuras, em golpes de sorte,
não é justo
supor coincidência
se a prosa
toma o rumo da morte.
Superei os
cinqüenta e dois,
mas perdemos
um grande amigo.
Meu sofrer
então não foi pouco
e você
sofreu junto comigo.
Aos cinqüenta
e dois você foi,
me deixando
pra trás no caminho.
Mesmo tendo
os sentidos alertas,
está difícil
a jornada sozinho.
Nosso tempo,
tão compartilhado,
passa agora
em enganos diversos,
se arrasta
na melancolia
ou escapa na
rima dos versos.
Acostumo com
a dor da saudade,
que me vira do
lado contrário.
Cinco meses
após lhe perder,
vem seu dia
de aniversário.
Há quem diga
“deixou de existir,
contra os
fatos não há argumento”.
Mas
discordo, não vou lhe banir,
brindaremos em
cada momento.
Passo a
Páscoa da ressurreição,
do comércio
dos vinhos e ovos,
no alento do
nosso refúgio,
nossos filhos,
amores mais novos.
Se com eles
lhe sinto presente,
nas feições,
na emoção dividida,
só aumento uma
antiga certeza,
fomos cúmplices
em tudo na vida.